Seca expõe ponte antiga e gera perdas no PR

PRIMEIRO DE MAIO, PR E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) A barragem da usina hidrelétrica de Capivara, no Paraná, tem atraído a atenção dos moradores da região. Junto à “ponte Caída”, divisa dos municípios de Sertaneja e Sertanópolis, o braço do rio Tibagi, que alimenta a usina, secou tanto que a ponte da antiga estrada, […]

PRIMEIRO DE MAIO, PR E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

A barragem da usina hidrelétrica de Capivara, no Paraná, tem atraído a atenção dos moradores da região. Junto à “ponte Caída”, divisa dos municípios de Sertaneja e Sertanópolis, o braço do rio Tibagi, que alimenta a usina, secou tanto que a ponte da antiga estrada, que tinha sido encoberta pelas águas da represa de Capivara, está completamente aparente.

Em épocas normais, somente a parte da estrutura do lado mais alto da ponte podia ser vista, e em épocas de cheia a ponte desaparecia completamente. Não só a ponte está à mostra mas também dezenas de árvores mortas que ficavam submersas.

No local as águas recuaram mais de cem metros em cada margem, transformando o leito da represa em pasto ou deixando o lodo rachado com fendas de mais de 20 centímetros de profundidade.
A situação do Tibagi, que é parte da bacia do rio Paranapanema, ilustra bem a gravidade da crise hídrica que se abateu sobre as principais bacias produtoras de energia do país em 2020, que vem obrigando o governo a acionar térmicas mais caras para poupar água nos reservatórios.

Considerado a principal caixa-d’água do setor elétrico brasileiro, o subsistema energético que envolve as regiões Sudeste e Centro-Oeste está hoje com pouco mais de 16% de sua capacidade de armazenar energia em hidrelétricas.
Um dos rios mais importantes de São Paulo, que faz a divisa do estado com o Paraná, o Paranapanema recebeu volume de chuvas equivalente à média histórica apenas em um mês neste ano. Nos outros, os volumes ficaram bem abaixo.

“Vem um chuvisqueiro que serve só para manter a agricultura”, lamenta Nicolas Carmona Carmona Nebreira, 68, proprietário de um pesqueiro na região que diz que a situação se repete pelos últimos cinco anos.
Nebreira lembra que outras atividades econômicas, como pesca e turismo, também são afetadas pela crise.
“[O município paranaense] Primeiro de Maio é uma região turística do Paraná que depende das águas da represa”, diz. “E, com o nível baixo, o turismo é prejudicado e a cidade toda sofre. Tive uma retração de uns 60% em meu negócio.”

Seu vizinho teve que interromper a atividade de aquicultura, pois não há oxigênio suficiente na água para a criação de peixes em tanques rede.
Os rios Tibagi e Paranapanema têm dez hidrelétricas, três com reservatório para armazenar água. A situação é ruim em todas: Chavantes está com 21,94% de sua capacidade, Jurumirim tem 14,89%, e a maior delas, Capivara, tem 5,59%.

Flávio Santiago, 38, costuma frequentar a represa de Capivara para pescar e afirma que nunca tinha visto o nível das águas tão baixo. “Com o nível normal, as águas ficam a poucos metros da ponte, mas agora, para chegar à beirada, tem esse barranco todo”, aponta.

Marcas escuras nas pilastras de sustentação da ponte indicam que a água já chegou a bater uns nove metros do nível atual. O baixo nível da represa de Capivara impede a saída de barcos a motor, diz o construtor autônomo Odair Valdivino, 54, pelos riscos de que as hélices batam no fundo do rio ou em barcos.
Valdivino diz que hoje, em muitos lugares, só é possível chegar de caiaque. Ele usa a ponte da antiga estrada como exemplo do ineditismo da situação.

“Em época de cheia não dá para ver nada”, afirma. “Agora ela está toda fora d’água.”

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