A presença feminina no mercado formal de trabalho ganhou fôlego no início de 2025, especialmente entre mulheres em situação de vulnerabilidade social. Entre janeiro e abril deste ano, 56,6% dos empregos formais ocupados por pessoas cadastradas no CadÚnico — banco de dados do governo federal que identifica famílias de baixa renda — foram preenchidos por mulheres, segundo cruzamento de dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
No total, foram criadas 920.761 vagas formais no período. Destas, 689.378 — ou quase 75% — foram ocupadas por beneficiários do CadÚnico. Dentro desse grupo, a maioria é feminina, invertendo a lógica do saldo geral de empregos no país, onde os homens ainda representam a maior parcela (54,7%), de acordo com o Caged.
O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, vê nos dados um reflexo do esforço de integração entre programas como o Bolsa Família e iniciativas de capacitação e microcrédito como o Programa Acredita. “Essas famílias e principalmente as mulheres estão buscando sua autonomia, demonstrando compromisso com o trabalho e com a construção de um futuro mais próspero. Isso desmistifica a ideia de que os beneficiários de programas sociais não têm interesse em trabalhar ou prosperar”, declarou.
Entre as iniciativas em destaque está o Programa Acredita, voltado à inclusão produtiva e de qualificação profissional, que destinou R$ 3,4 bilhões em crédito neste ano para impulsionar negócios, qualificar profissionalmente e ampliar o acesso ao mercado formal. A estratégia faz parte de um esforço mais amplo do governo Lula de fortalecer a proteção social com foco nas mulheres — priorizando, por exemplo, o repasse do Bolsa Família a chefes de família do sexo feminino, além de conceder um adicional de R$ 50 a gestantes e nutrizes.
É o caso de Graziela Araújo do Nascimento, 30 anos, moradora do bairro Piauí, em Parnaíba (PI). Beneficiária do Bolsa Família e formada em Pedagogia, ela decidiu abrir uma escola de reforço escolar para atender crianças da sua comunidade. Com apoio financeiro do Programa Acredita no Primeiro Passo, conseguiu ampliar o espaço e fortalecer o projeto: “Eu vi a necessidade de ter um espaço onde pudesse auxiliar as crianças do meu bairro, principalmente aquelas com dificuldades de aprendizado, inclusive crianças autistas”, contou. A escola Caminho das Letras atende alunos da rede pública e particular com atividades de reforço e ações lúdicas.
Histórias como a de Graziela ilustram o movimento poderoso de mulheres que têm transformado o acesso à política pública em mudança concreta de vida, para si mesmas e para suas comunidades.
A titular da Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (Senarc), Eliane Aquino, destaca que o Bolsa Família tem como eixo central o enfrentamento das desigualdades de gênero e raça. “As principais beneficiárias do Bolsa Família são mulheres negras, pardas, mães solo e moradoras de áreas periféricas. O programa tem um olhar especial para mulheres e crianças, ampliando o acesso a políticas de saúde e educação e contribuindo para a redução do trabalho infantil”, explica.
“A tempestade passou”
Na prática, o acesso a políticas de qualificação profissional e proteção social tem mudado trajetórias como a de Vânia Messias, de 57 anos, moradora do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Após passar por dificuldades, encontrou apoio no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e investiu em cursos profissionalizantes.
Hoje, trabalha na área, como orientadora social do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Nelson Mandela, no bairro Bonsucesso, na capital fluminense. Ela conta que conseguiu superar a dependência do Bolsa Família, embora saiba que, se necessário, pode contar novamente com a rede de proteção: “Eu hoje tenho um trabalho, graças a Deus não preciso mais do Bolsa Família, e pretendo não precisar. Mas o dia que eu precisar, não vou ter vergonha de dizer: ‘preciso atualizar meu cadastro’. A tempestade passou”, afirmou.
Casos como o de Vânia ilustram o impacto positivo de ações que vão além da transferência de renda e alcançam o fortalecimento da autonomia feminina com incentivo à qualificação profissional, acesso ao crédito e incentivo ao empreendedorismo ou ao trabalho formal — peças-chave para a redução da pobreza e promoção de um desenvolvimento mais justo e inclusivo.
São essas ações que estão ajudando a transformar a realidade de milhares de mulheres, principalmente mães solo, moradoras de periferias e chefes de família, que passam a ter mais chance de conquistar autonomia financeira e sair da linha da pobreza. Com isso, elas têm buscado qualificação, conseguido emprego e abrido os próprios negócios.
Redução da desigualdade
Histórias como as de Vânia e Graziela ajudam a explicar um fenômeno mais amplo: a renda do trabalho entre as famílias de baixa renda cresceu 10,7% em 2024, segundo estudo da FGV Social. O crescimento é 50% superior ao registrado entre os 10% mais ricos, que viram seus rendimentos subirem 6,7% no mesmo período. Na média, o rendimento do trabalho no país avançou 7,1% — marcando a maior queda da desigualdade social registrada nos últimos anos.
Segundo a pesquisa, baseada em dados da Pnad Contínua, esse avanço é impulsionado por dois fatores: o aumento da formalização do emprego e a chamada Regra de Proteção do Bolsa Família, que permite que beneficiários continuem recebendo parte do valor mesmo após conseguirem um emprego, evitando a perda brusca da renda familiar.
Com base em políticas direcionadas e resultados concretos, estas políticas públicas mostram como a inclusão social e desenvolvimento econômico não são agendas separadas, mas que colocar mulheres em posição de protagonismo é parte da equação para enfrentar as desigualdades estruturais do país.
Com informações do Governo Federal