Uma operação liderada pelo ICMBio no Parque Nacional (Parna) Mapinguari (AM) encontrou um grande esquema de roubo de madeiras.
FABIANO MAISONNAVE/CURITIBA, PR (FOLHAPRESS)
Ao longo de uma semana, os fiscais, apoiados pela Polícia Militar de Rondônia, enfrentaram tiros, estradas bloqueadas, uma ponte destruída e tiveram a comunicação via internet interrompida. Ao todo, foram destruídos 14 veículos, principalmente tratores, e sete motosserras. Dois madeireiros foram presos e outros dois conseguiram fugir em motocicletas após disparar contra os fiscais.
As informações constam em relatório oficial da operação, obtido pela reportagem. Os madeireiros foram multados em R$ 2.2280.000. Os donos dos veículos destruídos foram identificados e teriam os nomes encaminhados para o Ministério Público Federal, para medidas judiciais.
A operação foi realizada no setor sul do Parna Mapinguari, entre os dias 12 e 18 de agosto. As madeiras roubadas teriam como destino o polo madeireiro de Vista Alegre do Abunã, um distrito de Porto Velho (RO) próximo ao parque. Além dos disparos, os madeireiros derrubaram árvores e cortaram uma ponte para dificultar a mobilidade da ação fiscalizatória. “Também foi bloqueada a comunicação da equipe com a chefia da unidade de conservação e do comandante da Polícia Militar, com destruição de antena de internet nas adjacências do acampamento”, diz o documento.
Em maio, durante uma operação ambiental com apoio do Exército, os fiscais descobriram que a base de fiscalização do setor sul havia sido incendiada. Também foi descoberta um ponte construída sobre o rio que marca os limites do parque. Os madeireiros já haviam avançado 30 km para o interior do parque. O ICMBio e a PM encontraram cerca de 1.500 m³ de tora, o suficiente para carregar 75 caminhões. A área de floresta degradada é de 2.000 hectares, o equivalente a 12,6 Parques Ibirapuera.
Os equipamento destruídos são: quatro tratores de exploração florestal skider, dois tratores de esteira, dois tratores com pá para carregamento de toras, dois tratores com guincho florestal, três caminhões para transporte de toras e um semirreboque modelo julieta. Segundo o relatório, a destruição de equipamentos foi feita devido ao risco para levar os bens até um local seguro. Foram apreendidas uma camionete e duas motocicletas.
Em entrevista à SIC TV, o madeireiro Orlandi Jesus da Silva, que teve tratores destruídos, afirmou que “tem as terras desde 1998, e agora eles chegaram ali falando que é reserva”. “Pra virar reserva, a ONG (sic) tem de pagar as minhas terras, a ONG tem de me pagar. Depois que a ONG pagar as minhas terras, pode virar reserva”, disse. “Isso não é Brasil, não.”
A operação de maio identificou comércio ilegal de lotes dentro do Mapinguari. A grilagem inclui levantamento topográfico, demarcação de picadas (trilhas) na floresta e venda de madeira na área invadida. O Parna tem uma área de 1,7 milhão de hectares e foi criado em 2008, como medida compensatória da construção das usinas Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira. Assim como outras áreas protegidas da região, sofre pressão intensa de madeireiros e grileiros.
Segundo a plataforma Mapbiomas, o Parna perdeu 1.173 hectares de floresta entre janeiro de 2019 e julho deste ano.