A morte da pequena Zoe de Souza Fonseca, de apenas 1 ano e quatro meses, por meningite, no último domingo (5), comoveu e gerou indignação entre moradores de todo o Paraná. Segundo a mãe da criança, o caso se tratou de negligência médica e, a partir das denúncias, o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) instaurou sindicância para apurar a conduta da médica que prestou os primeiros atendimentos à criança na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Matinhos.
Entenda o caso:
Prints no celular de Maria Vitória Gomes de Souza, mãe de Zoe, mostram que durante o sábado, a família aproveitou o dia de sol na praia. A mãe relatou que a criança estava ativa, brincando e sorrindo, mas, conforme as horas foram passando, passou a ficar quieta. De acordo com a responsável, a criança apoiava a cabeça no ombro da mãe, possivelmente apresentando dor.
- Mãe compartilhou registrou feito no último sábado (4)
A mãe contou ainda que à noite foi até a UPA de Matinhos com a filha apresentando febre alta. Durante a triagem, a criança apresentou vômito e foi encaminhada para atendimento no setor pediátrico da unidade. A médica plantonista atendeu a criança cerca de 30 minutos após a triagem.
Conforme informações da Secretaria de Saúde de Matinhos, após anamnese e exame físico, a profissional não identificou sinais de alarme clínico.
“A criança encontrava-se ativa, corada e responsiva, apresentando apenas febre e vômito — quadro compatível com condições clínicas leves comumente observadas em pacientes pediátricos na região litorânea”, cita parte da nota da prefeitura.
Versão contestada pela mãe, que afirma que durante a consulta, a médica — que não é pediatra — não examinou a criança. Dentro do consultório, teria apenas perguntado o peso da filha e diante dos sintomas apresentados, indicado que poderia ser uma virose. A orientação da médica para o tratamento de Zoe foi de hidratação intensa; a criança recebeu uma injeção e foi liberada da unidade.
O que parecia, à primeira vista, ser um quadro de virose se agravou durante a madrugada. Consternada, Maria relatou que por volta das 5h, acordou e encontrou a filha com o corpinho cheio de manchas. Assustada, acionou o SAMU para que a pequena fosse levada novamente à UPA. Porém, não havia ambulância disponível para atender a criança naquele momento. A orientação foi para que a família conseguisse um veículo por meio de aplicativo ou com vizinhos para levá-la ao hospital por meios próprios. Toda a situação foi acompanhada de perto por uma amiga da família, Cris.
Por volta das 6h, a família chegou à UPA Praia Grande, e Zoe foi encaminhada diretamente para a sala de emergência, onde foi atendida pela equipe médica. Indignada, Maria Vitória conta que a mesma médica que havia atendido a criança na noite anterior presenciou o atendimento de emergência e informou que era apenas um “viruzinho”.
“Nisso, eu tava pensando que ia dar tudo certo e falaram que era estado grave. Eu corri pra Cris falando que era estado grave. Aquela pediatra entrou lá pra ver a situação da minha filha, olhou pra mim e falou assim: ‘calma, mãe, é só um viruzinho’”, contou.
Conforme informações da UPA, ao chegar na unidade pela manhã, a criança apresentava rebaixamento do nível de consciência, hipoatividade e lesões cutâneas compatíveis com púrpura, configurando quadro sugestivo de agravamento infeccioso agudo.
Devido à situação crítica, a UPA de Matinhos solicitou, por volta das 7h30, ao SAMU, a transferência da criança para o Hospital Regional do Litoral (HRL), em Paranaguá. Segundo a mãe de Zoe, a ambulância não contava com médico.
Ao chegarem no HRL, Maria Vitória ficou ao lado da filha durante algum tempo, porém, com a evolução do quadro clínico, foi retirada da sala e não teve mais acesso à criança. De acordo com ela, neste momento tentaram intubar a menina, mas minutos depois, foi informada sobre a morte da filha.
A certidão de óbito emitida para a criança de um ano e quatro meses indica como causa da morte choque séptico e meningococcemia.
A mãe questiona a conduta médica adotada pela profissional que atendeu a criança em Matinhos. Entre os pontos levantados pela responsável estão a falta de exames que pudessem apontar a meningite e o menosprezo ao classificar o quadro como um vírus inofensivo.
Diante das denúncias, a produção da TVCI procurou o CRM-PR, que informou que:
“Instaurou processo de sindicância para apurar o ocorrido. Caso comprovada conduta violadora das regras éticas, as sanções previstas na Lei de criação dos Conselhos de Medicina vão desde advertência confidencial, podendo chegar à cassação do exercício profissional, a depender do grau de culpa e da gravidade das consequências apuradas.
As sindicâncias e os processos ético-profissionais tramitam sob sigilo processual, garantindo às partes envolvidas os direitos constitucionais ao contraditório e à ampla defesa.”
Já a Prefeitura de Matinhos, por meio da Secretaria de Saúde, ressaltou que:
“No primeiro atendimento, não havia indícios clínicos de gravidade, e todas as condutas foram adotadas conforme protocolos vigentes de atendimento em urgência e emergência pediátrica, com orientação adequada aos familiares sobre retorno em caso de piora.”
O SAMU foi procurado e questionado sobre a falta de ambulância e o suporte oferecido na transferência da paciente, visto que a responsável também cita a ausência de médico no transporte, mas o órgão não se manifestou.