Na manhã deste domingo (23), a Defesa Civil de Paranaguá realizou uma intervenção preventiva na marquise do Clube Republicano, que já foi um dos clubes mais tradicionais do litoral paranaense, e demoliu parte da estrutura.
A marquise estava deteriorada e oferecia riscos à população, mas, por se tratar de patrimônio histórico, havia necessidade de autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Coordenação de Patrimônio Cultural do Paraná (CPC). O processo para intervenção no espaço teve início ainda no ano passado.
O secretário de Segurança Pública de Paranaguá e coordenador municipal da Defesa Civil, João Carlos Silva, acompanhou os trabalhos e explicou que o prédio abandonado é uma preocupação antiga. “O engenheiro Paulo Emmanuel e o chefe de equipe, que é o Galdino, já tinham feito levantamento e vistoria, e apontaram que ela [a marquise] estava em risco de cair a qualquer momento.”
De acordo com a secretária de Cultura e Turismo de Paranaguá, Maria Plahtyn, todos os cuidados foram tomados. “Por isso nós estamos aqui hoje, até pra garantir que não tenha nenhuma interferência, não tenha nenhuma consequência danosa ao patrimônio histórico”, explicou.
Para que a ação fosse realizada, houve a participação de várias secretarias. “Quero agradecer o pessoal da Segurança, de Obras, Serviços Urbanos e da Cultura e Turismo”, ressaltou João Carlos Silva.
História em ruínas
O Clube Republicano foi fundado em 1887, portanto dois anos antes da Proclamação da República, que aconteceria apenas em 15 de novembro de 1889. Não por acaso, a rua onde está situado o “Repo” deixou de se chamar Rua do Imperador para ser a Rua XV de Novembro.
A história está eternizada no livro Clube Republicano Paranaguá, de autoria de Milton Miró Vernalha e Amilton Aquim.
Mas, para entender a história, é preciso conhecer o que houve nos anos que antecederam a fundação.
1864 – Um grupo de maçons já discutia ideias republicanas, mas sem ter grande alcance na propagação dos princípios, com o passar do tempo eles precisaram repensar a causa. “Os próprios membros da maçonaria chegaram a conclusão, como não se pode trazer o povo para dentro da Maçonaria, os seus filhos podem perfeitamente fazerem pregações para o estabelecimento do regime republicano em outro lugar, onde a comunidade possa ter acesso, possa participar, possa gritar que o Brasil precisa sair do Império”, cita o livro.
1870 – Com o fim da Guerra do Paraguai, a monarquia no Brasil se via cada vez mais esvaziada. O cenário era de insatisfação entre quase todas as classes sociais. Grupos surgiam por todo o país e começavam a cobrar poder de decisão por vias eleitorais, abrindo os caminhos para a democracia. A cidade de Paranaguá, que sempre exerceu importante papel político, não ficou de fora. Nesse mesmo ano, a cidade aderiu ao manifesto republicano nacional. Na época, diz o livro, o professor Manoel Viana cravou: “A semente primeira da ‘Democracia’, no Paraná, chantou-se em nossa Paranaguá”.
1883 – Em 7 de julho, Fernando Machado Simas, João Eugenio Machado Lima e Guilherme José Leite fundaram o jornal “O Livre Paraná”. A ideia ganhou apoiadores como Nestor Victor dos Santos, Albino José da Silva e Joaquim Soares Gomes. Com eles, as ideias republicanas ganharam mais espaço na sociedade parnanguara. Vieram também, por consequência, as perseguições políticas contra os profissionais de imprensa. “Desde 1881, Paranaguá liderava em toda a Província a propaganda republicana, solicitava que todas as localidades fundassem núcleos onde professasse a ideia e propaganda republicana. Foi quando publicaram a “Declaração Republicana Paranaguense”, detalham os autores. Em 1882, foi o “Manifesto aos Paranaguenses” que ganhou destaque.
1887 – A sala do sobrado 37 foi escolhida como local para fundar o Clube Republicano. Na ata de instalação, redigida por Nestor Victor, consta que o manifesto republicano nacional foi lido e prontamente aceito pelos presentes, todos homens que cravaram seus nomes na história de Paranaguá.
O livro de Vernalha e Aquim conta, em detalhes, como foi a “virada de chave” do regime imperial para o republicano, o que ocorreu dois anos após a criação do clube. Em 13 de novembro de 1889, a Câmara de Paranaguá realizava sua última sessão como monarquista, embora houvesse membros favoráveis à continuação do sistema. Poucos dias depois, em 17 de novembro, a sessão era aberta com “vivas à República”.
Mudança de planos
O objetivo do clube havia sido alcançado e, sem um “motivo” para existir, uma crise se abateu sobre o local. A diretoria da época decidiu transformá-lo então em um espaço de lazer, que sediou “constantes festas, memoráveis bailes e recitais que faziam o clube se destacar”.
Nos anos seguintes, quando a luta pela igualdade de direitos para as mulheres começou a ganhar força, o local também serviu para essa causa. Um grupo só de mulheres, denominado Crysantemo, teve início ali.
Abandono
O clube fechou as portas em 1992 e, desde então, o estado de abandono se tornou motivo de lamento para a sociedade parnanguara.