Há cerca de um mês, Guaratuba foi um dos municípios do litoral mais afetados pelas chuvas. Foram aproximadamente 48 horas de chuva torrencial, que levou embora conquistas de uma vida inteira. Em alguns casos, são perdas materiais que, com o tempo, poderão ser recuperadas. Em outros, a perda é irreparável e deixa marcas profundas.
Para ajudar na reconstrução emocional dessas famílias, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Guaratuba deu início ao projeto “Sementes da Resiliência”, uma iniciativa composta exclusivamente por profissionais do próprio CAPS.
Uma das afetadas é a dona Dorilda, moradora da região da Limeira, uma das áreas mais atingidas. Embora sua casa não tenha sofrido danos, o impacto da tragédia vai muito além do material.
Ela perdeu o filho, Irineu Alves, de 25 anos, e a nora, Ana Paula Alves Cordeiro, de 20 anos. O casal morava na região de Ribeirão Grande e teve a residência arrastada pela enxurrada.
“Estou tentando conviver com essa situação de perda, dor e saudade”, desabafa.
Na mesma região onde o casal perdeu a vida, a tragédia poderia ter sido ainda maior. Dona Azuri Alves e sua família também viram a casa ser levada pela força da chuva naquela sexta-feira (7).
“Eu e minha família estávamos dormindo, acordamos por volta das 23h30 com um barulho de água e pequenas pedras passando por baixo da casa. Pegamos alguns documentos, um casaco e saímos para o morro”, lembra.
A mãe, o esposo, a filha e uma idosa conseguiram escapar e passaram a madrugada abrigados em meio à mata. Apesar de terem salvado suas vidas, perderam parte da casa, móveis, carro, parte da plantação e alguns animais.
- O carro da família foi arrastado pela enxurrada e ficou destruído. | Reprodução/TVCI
Diante dessas marcas profundas, o CAPS de Guaratuba idealizou o projeto “Sementes da Resiliência”, voltado ao atendimento humanizado das famílias atingidas.
Segundo a diretora do CAPS, Anna Cláudia Aimone, a enxurrada não levou apenas casas, mas também sonhos, memórias e a sensação de segurança dessas famílias. Apesar do número de afetados ser relativamente pequeno, o impacto foi devastador.
“Observando esse sofrimento profundo, sentimos que precisávamos oferecer mais do que um apoio emergencial. O ‘Sementes da Resiliência’ surgiu para proporcionar uma escuta acolhedora e o suporte emocional necessário para que essas famílias possam lidar com a dor e o luto”, explica a diretora.
Após o primeiro contato presencial com as vítimas, a proposta agora é disponibilizar um computador na Unidade Básica de Saúde da área rural, permitindo que os moradores tenham acesso remoto a psicólogos, terapeutas ocupacionais e médicos do CAPS.
A diretora do CAPS reforça que o órgão atua de forma ampla e integrada, indo além do tratamento de transtornos mentais graves.
“Atendemos pessoas com transtornos mentais, mas também oferecemos suporte para aqueles que enfrentam problemas com álcool e outras substâncias. Nosso objetivo é fornecer cuidados especializados e apoio emocional para todos que estejam em sofrimento psicológico, incluindo aqueles que, após essa tragédia, precisam de ajuda para reconstruir suas vidas. Sabemos que o caminho será desafiador, mas, com a união da comunidade e a força dessas famílias, acreditamos que elas serão capazes de se reerguer”, conclui Anna Claudia.
Embora o “Sementes da Resiliência” seja voltado para as famílias atingidas pelas chuvas, o CAPS de Guaratuba está disponível para acolher e avaliar qualquer pessoa que esteja passando por um momento delicado.