BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O presidente Jair Bolsonaro reconheceu, durante entrevista a um programa de TV nesta terça-feira (15), 38 dias após a projeção da vitória de Joe Biden, a eleição do democrata à Presidência dos Estados Unidos.
Em entrevista ao Brasil Urgente, da Band, Bolsonaro disse que esperou que os delegados do Colégio Eleitoral confirmassem o resultado do pleito de 3 de novembro, o que aconteceu nesta segunda-feira (14).
“Alguns minutos antes de entrar no ar eu já dei um ‘start’ para o nosso ministro Ernesto Araújo [Relações Exteriores], para ele fazer essa comunicação nossa, nas redes oficiais do governo. Depois, nas minhas redes particulares”, disse Bolsonaro na entrevista.
“Da minha parte, e da parte dele com toda certeza, o americano é pragmático, vamos fazer um trabalho de cada vez mais aproximação”, afirmou o presidente, um dos últimos líderes a reconhecer o resultado.
Mais cedo, nesta terça, os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e do México, Andrés Manuel López Obrador, parabenizaram o democrata pelo triunfo que o levará à Casa Branca. Agora, apenas o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, não cumprimentou o presidente eleito dos EUA.
Antes, a maior parte das lideranças mundiais já tinha parabenizado Biden, incluindo aliados do candidato derrotado, Donald Trump, como o premiê britânico, Boris Johnson, e o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu. Até mesmo o líder da China, Xi Jinping, cumprimentou o democrata pelo êxito nas urnas. Pequim é considerada hoje a maior antagonista dos Estados Unidos na arena global.
Rússia e México, por outro lado, disseram que esperariam pelas confirmações oficiais antes de comentar o resultado.
Bolsonaro, que apoiou e torceu pela reeleição de Trump durante a campanha eleitoral, finalizou a entrevista desta terça afirmando que, após o reconhecimento dos delegados do Colégio Eleitoral, não irá mais discutir se o pleito americano foi “tranquilo”, em referência às acusações de fraude feitas pelo atual presidente americano -o republicano não apresentou provas que sustentassem as declarações.
“Não cabe mais eu falar absolutamente nada. Esperei, houve o reconhecimento e nós, aqui, já fizemos o comunicado, agora há pouco, ao presidente Joe Biden.” Depois de votar no segundo turno das eleições municipais no Rio de Janeiro, o presidente brasileiro disse que “realmente teve muita fraude lá”. “Isso ninguém discute, tenho minhas fontes. Se foi suficiente para definir um ou outro, eu não sei.”
As rusgas entre Bolsonaro e Biden não se limitam ao apoio do líder brasileiro a Trump. Durante o primeiro debate presidencial, o democrata disse que “a floresta tropical no Brasil está sendo destruída” e que poderia impor sanções ao Brasil e mobilizar até US$ 20 bilhões (R$ 108,4 bilhões) para ajudar na proteção da Amazônia. À época, Bolsonaro classificou a fala como lamentável.
Quatro dias após a projeção da vitória de Biden, Bolsonaro chegou a afirmar que “tem que ter pólvora” para fazer frente a candidato a chefe de Estado que quer impor sanção por causa da Amazônia.
Assim, levou mais de um mês para cumprimentar o presidente eleito dos EUA, contrariando uma tradição de líderes brasileiros, que não tardaram em enviar cumprimentos a outros americanos recém-eleitos.
Somente após a entrevista, o Itamaraty divulgou a nota “Cumprimentos do presidente Jair Bolsonaro ao presidente-eleito dos EUA Joe Biden”. “Saudações ao presidente Joe Biden, com meus melhores votos e a esperança de que os EUA sigam sendo a terra dos livres e o lar dos corajosos'”, diz trecho da nota.
“Estarei pronto para trabalhar com V. Exa. e dar continuidade à construção de uma aliança Brasil-EUA, na defesa da soberania, da democracia e da liberdade em todo o mundo, assim como na integração econômico-comercial em benefício dos nossos povos”, conclui o comunicado.
Em seguida, Bolsonaro também se manifestou em suas redes sociais, reproduzindo a nota do Itamaraty.