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Pediatras alertam para mudanças de comportamento infantil na pandemia

Quase nove em cada dez pediatras (88%) dizem que as crianças apresentaram alterações de comportamento durante a pandemia de Covid-19. CLÁUDIA COLLUCCI/SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) Oscilações de humor, como a mudança de felizes e ativas para taciturnas e retraídas, aparecem como as queixas mais frequentes, segundo 75% dos médicos. Em seguida, vêm ansiedade, irritabilidade, depressão, […]

Quase nove em cada dez pediatras (88%) dizem que as crianças apresentaram alterações de comportamento durante a pandemia de Covid-19.

CLÁUDIA COLLUCCI/SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Oscilações de humor, como a mudança de felizes e ativas para taciturnas e retraídas, aparecem como as queixas mais frequentes, segundo 75% dos médicos. Em seguida, vêm ansiedade, irritabilidade, depressão, agitação, insônia, tristeza, agressividade e aumento de apetite, entre outros.

Os resultados são de uma pesquisa divulgada nesta quarta (19), feita por duas entidades médicas, a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e a Febrasgo (federação das sociedades de ginecologia e obstetrícia). O levantamento, realizado por meio de questionário online entre 20 de julho e 16 de agosto, ouviu 1.525 profissionais, sendo 951 pediatras e 574 ginecologistas e obstetras de todo o país.

Segundo Luciana Rodrigues Silva, presidente da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), várias hipóteses explicam as mudanças de comportamento, como alterações da rotina, a falta da escola e da convivência com os colegas e a necessidade de isolamento social imposta pela pandemia. A violência doméstica é outro fator que também preocupa os profissionais. “Com o confinamento, muitos pediatras têm relatado aumento dos casos de violência contra a criança e o adolescente”, afirma.

Nesta terça (18), a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) alertou para uma crise de saúde mental sem precedentes na região das Américas, com uma explosão de casos de depressão, ansiedade e estresse, além de aumento da violência doméstica.
De acordo com a diretora da Opas, Carissa Etienne, ainda que os adultos também estejam sofrendo com os impactos emocionais da pandemia, eles precisam encontrar tempo para conversar com os filhos, escutá-los e incentivá-los a expressar os sentimentos.

Para a pediatra Luciana Silva, brincadeiras e tarefas domésticas em conjunto, como cozinhar, podem ajudar nesse processo. Ela afirma que o fato de as crianças estarem mais tempo em frente às telas de celulares e computadores não só pode provocar alterações de comportamento como também contribui para o aumento da obesidade infantil. Em relação às crianças menores, a preocupação da SBP é com a vacinação. Na pesquisa, 73% dos pediatras têm a percepção de que as crianças deixaram de ser vacinadas nesse período.

A SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) também tem alertado para a queda da vacinação infantil durante a pandemia e para a importância de que os pais mantenham a carteira de imunização dos filhos em dia.

“As vacinas são indispensáveis para proteger as crianças. As mães estão com medo do contágio pelo coronavírus ao procurar os postos de vacinação, mas ficar sem a vacina é um risco ainda maior para as crianças”, diz.

Há, por exemplo, um avanço nos casos de sarampo no Brasil neste ano justamente pela queda nos índices de vacinação durante a pandemia. Segundo o Unicef, mais de 117 milhões de crianças no mundo podem deixar de receber a vacina contra o sarampo. As campanhas de vacinação contra a doença já foram adiadas em pelo menos 24 países. No Brasil, 19 estados ainda registram a circulação do sarampo, como o Pará, onde 40,9% das notificações foram confirmadas para a doença.

Obstetras apontam atraso em consultas de pré-natal A pandemia também já traz impactos na assistência à gestante na avaliação de 64% dos obstetras ouvidos na pesquisa. Para a maioria deles (52%), as grávidas estão atrasando o início das consultas de pré-natal. Um quinto (20%) relata que elas deixaram de ir ao consultório ou a um posto de saúde nas datas corretas.

O principal motivo, na opinião de 81% dos entrevistados, é o medo da contaminação pelo coronavírus. Percentual semelhante (82%) relata que as pacientes têm o mesmo temor em relação aos hospitais. De acordo com 46% deles, as grávidas não estão conseguindo fazer os exames de acompanhamento no tempo certo, e 8% dizem que elas deixaram de realizá-los nesse período. Grande parte dos profissionais (70%) diz que as gestantes têm medo de transmitir o vírus para o bebê por meio da corrente sanguínea e de que o coronavírus cause malformações.

Segundo César Eduardo Fernandes, presidente da Febrasgo, até o momento não existe nenhuma evidência de que haja transmissão vertical do coronavírus nem que ele cause defeitos congênitos no feto. “É uma crença equivocada talvez pela associação que muitas possam fazer com o vírus da zika, que assolou o país [entre 2015 e 2016] mais do que qualquer outro do mundo”, diz.

Fernandes diz que é preciso desmistificar essas crenças e conscientizar as gestantes dos riscos que elas e os bebês correm se o pré-natal não for feito da forma correta. Ao adiar o início desse acompanhamento, perde-se a oportunidade de detectar e tratar precocemente doenças como a sífilis, que causa malformação fetal. “Se eu diagnosticar a sífilis no sexto mês de gravidez, não tenho mais o que fazer [em relação aos danos causados ao feto].”

Também há riscos de morte para a gestante e o bebê, além de parto prematuro, se doenças como a diabetes e a hipertensão não forem diagnosticadas e tratadas a tempo. A própria gestação aumenta as chances de complicações na Covid-19, o que torna o acompanhamento dessas mulheres ainda mais imprescindível.

“A gestante tem uma dinâmica diferente da mulher não grávida. A assistência ventilatória de uma grávida, caso precise ser intubada, é muito problemática. O [bebê no] útero dificulta a expansão do diafragma. É preciso uma equipe muito bem capacitada para atendê-la nessas condições.”.

O Brasil tem registrado alta taxa de mortalidade materna pela Covid-19. Para Fernandes, os óbitos estão mais relacionados à falta de acesso à assistência adequada do que à doença em si.

Foto  MSGT Val Gempis, USAF

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