O mês de setembro, dedicado à saúde mental e à prevenção do suicídio, traz um grande alerta para a sociedade em tempos de Inteligência Artificial (IA): o uso crescente de chatbots, como o ChatGPT, para conversas e desabafos de pessoas que possuem algum transtorno psíquico. Segundo especialistas, apesar do recurso trazer conforto durante as conversas, a troca não substitui as relações humanas.
“Quando a gente pensa nesse movimento de tantas pessoas recorrerem ao ChatGPT ou outras inteligências artificiais para conversar e desabafar, é importante lembrar que a tecnologia pode até trazer um certo alívio naquele momento. Porém, existe um cuidado essencial aí: a IA não substitui o vínculo humano, a escuta verdadeira e o olhar atento de alguém que realmente pode compreender nossas emoções em profundidade”, disse a psicóloga Silvia Fernandes.
Um relatório da Organização Mundial da Saúde, publicado em julho de 2025, estima que uma a cada seis pessoas no mundo se sente sozinha, entre os adolescentes, o índice chega a uma em cada cinco. O isolamento social está associado a mais de 871 mil mortes anuais, o equivalente a cerca de 100 vidas perdidas a cada hora.
Os dados alarmantes, se comparado com outras doenças como tabagismo e obesidade, preocupam psicólogos e psiquiatras, especialmente no Brasil, onde 18 milhões de pessoas sofrem com transtorno de ansiedade, segundo a OMS.
A sensação de ser cuidada pela máquina, tende a diminuir as relações dos usuários com amigos, familiares e deixam de procurar tratamento com um profissional, o que pode aumentar o sentimento de solidão, dificultar a elaboração das dores e fazer com que o sofrimento se prolongue. Segundo a psicóloga, “a tecnologia pode ser uma ferramenta, mas ela nunca deve ocupar o lugar das relações humanas e do cuidado profissional. Conversar com alguém de confiança, dividir sentimentos e, se necessário, procurar ajuda psicológica é sempre o caminho mais seguro e saudável”, concluiu.
Escuta ativa e atenção dos pais
A psicóloga infantil reforça que os pais e responsáveis devem ficar atentos não só ao tempo que os filhos passam utilizando as ferramentas de inteligência artificial, mas ao uso que fazem. “Muitas vezes, os adolescentes recorrem à tecnologia para conversar, tirar dúvidas ou até para desabafar. Isso em si não é ruim, mas pode se tornar preocupante quando substitui o diálogo em casa ou com pessoas de confiança”, destacou.
Entre as práticas recomendadas, Silvia sugere que os pais tenham uma conversa aberta e façam perguntas com interesse genuíno no que eles gostam de fazer nessas plataformas, o que procuram, se já receberam algum conselho diferente, e assim ir entendendo melhor esse universo junto com eles.
Segundo ela, quando os pais demonstram curiosidade e acolhimento, os adolescentes tendem a compartilhar mais os medos e inquietações. “É fundamental equilibrar o uso da tecnologia com momentos de convivência em família, de troca e de presença. Afinal, o que mais fortalece a saúde emocional dos filhos é o vínculo humano”.
A especialista ressalta que a IA pode ajudar em tarefas diárias, em esclarecimento de dúvidas e não devem ser retirados de forma rígida, mas equilibrada, ofertando ao adolescente tempo de qualidade e interações humanas que demonstrem presença e cuidado.
“Quando os pais criam momentos de convivência – uma refeição sem celular, um passeio, até uma conversa rápida antes de dormir – o diálogo vai surgindo de forma natural. Mais do que “tirar” a tecnologia, o segredo é oferecer presença, porque é isso que faz o jovem perceber que não está sozinho”, concluiu.
Canais de ajuda psicológica
Centro de Valorização da Vida (CVV)
Um serviço gratuito, sigiloso e disponível 24h por dia, via telefone (188), chat ou presencial. É um espaço seguro para quem precisa conversar, aliviar angústias ou atravessar um momento difícil.
Psicologia Viva
Plataforma consolidada e confiável, com psicólogos registrados no CRP. Alguns planos de saúde aceitam cobertura, o que pode reduzir o valor das sessões.
Vittude
Com ótimo sistema de busca e filtro, conecta o usuário ao psicólogo ideal. Todos os profissionais têm CRP ativo, garantindo segurança e credibilidade.